Mitos e Heróis - A Expressão do Imaginário
Ana Paula Pinto; João Amadeu Silva; Maria José Lopes; Miguel Gonçalves (Orgs.), 669 págs., 2012
Ana Paula Pinto; João Amadeu Silva; Maria José Lopes; Miguel Gonçalves (Orgs.), 669 págs., 2012
O mito - essa enigmática manifestação de cultura, que congrega de forma complexa, através de símbolos, a imaginação, a experiência, e a intuição das origens e dos fins últimos dos fenómenos - ofereceu aos homens desde a aurora dos tempos um meio de dar sentido à vida e de organizar a imprevisibilidade do universo. Inicialmente inscrito no âmbito do religioso, ele exerceu desde a Antiguidade uma incontestável influência sobre todos os domínios do pensamento, e, ao longo dos séculos, mesmo após o triunfo do Cristianismo, o seu fascínio acabou por irradiar a praticamente todas as esferas da vida humana, alimentando sobretudo o riquíssimo caudal da inspiração artística. Porque propõe uma ruptura mágica com as coordenadas físicas do tempo e do espaço, o mito garante à imaginação do homem uma vivência transcendente da universalidade e da intemporalidade, isto é, do absoluto, e não deixa de se insinuar ainda em todas as mediações simbólicas do pensamento contemporâneo.
No conjunto das narrativas míticas que sugerem ao espírito humano exemplaridade universal, destacam aquelas que elegem por núcleo temático a figura do herói. Na verdade, o herói, que vive para defender diante da arbitrariedade de forças hostis o sentido da sua excepcional dignidade humana, superando com constância, e conscientemente, a fronteira das suas próprias limitações, apresenta-se a partir da narrativa mítica clássica à consciência dos homens de todos os tempos como um estimulante modelo de conduta, de significação universal e intemporal, capaz de propor à sua sede de absoluto um padrão de excelência perene.