Ratio Studiorum da Companhia de Jesus (1599) - Regime escolar e curriculum de estudos

[...] Porquê a publicação de um texto latino com mais de quatro séculos, num contexto em que as instituições escolares se encontram  tão apartadas do modelo de ensino por ele representado, num tempo em que saber latim é coisa bizarra, quase tão rara como outrora saber sânscrito ou conhecer "línguas orientais"?

A primeira razão é a importância que este texto exerceu na educação de muitas gerações de humanistas e intelectuais de toda a Europa. O texto da Ratio é fundador. Qualquer que seja a opinião sobre o ensino dos jesuítas, a sua acção pedagógica estendeu-se a uma tão grande escala geográfica e cronológica que ignorar o documento que presidiu àquele sistema escolar é consentir numa lacuna na História do ensino.

Urge, na verdade, fazer uma leitura moderna da Ratio à luz dos mais recentes progressos das novas ciências da educação, e ela só é possível com o conhecimento do texto. O conhecimento desta fonte interessa, pois, não só a historiadores mas também a pedagogos e professores, a linguistas e homens de letras, bem como aos especialistas de ciências da educação. A história das ciências, a história da literatura, a história do teatro, a história da filosofia, a história da exegese bíblica, a história da teologia, a história do ensino, a história da arte têm, neste texto, um documento fecundo de informações, que é frequentemente desconhecido por não ser acessível ao leitor comum, nem à maioria dos académicos.

O fenómeno imparável da fragmentação disciplinar a que chegámos, levados pela especialização exponencial dos conhecimentos, coloca aos saberes novas questões. No ensino, sente-se uma necessidade crescente de rearticular conhecimentos e reorganizar as suas fronteiras de forma a recuperar a unificação de saberes primordial. A Ratio Studiorum representa um exemplo de escola humanística para a formação integral. E enquanto documento fundacional, interessam-nos os seus princípios criadores, não para reproduzir modelos antigos mas para produzir novos modelos, capazes de continuar a realizar a humanitas comum da unificação dos saberes que corresponde à prioridade da formação da pessoa e do desenvolvimento cultural das gerações. [...]