Ao Reencontro de Clio e de Polímnia: Ensaios Histórico-Literários e Outros Estudos

Há na retórica, e só as mais completas a incluem, uma figura de nome incomum e por isso menos conhecido, chamada epanortose, que se lê, por exemplo, no filósofo Timeu de locres e em Demóstenes. Significa emenda, melhoramento, correcção do que anteriormente se disse ou escreveu. Ora, pretendendo eu aqui não passar além de um breve esclarecimento acerca do conteúdo de Ao Reencontro de Clio e de Polímnia, vê-se logo que estas linhas não serão epanortóticas, mas nunicamente explicativas.

De facto, tal como aconteceu em Gramática e Linguística, volume saído há meses, aos textos não se alterou ou escamoteou a situação temporal primeva, salvo algum diminuto ajuste sintagmático em que, não raro, se intrometera gralha tipográfica ou imprecisão semântica em detrimento da nitidez exigível. Consequentemente, respeitou-se a bibliografia, sem troca por outra de maior actualização nem qualquer acréscimo à de início consignada. Embora no final se indique a proveniência dos trabalhos, grande parte originados por intervenções em congressos, uma porção menor resultante de colaboração em revistas da especialidade ou miscelâneas de homenagem, cada um deles leva aposta a data respectiva.

Foram agrupados em três secções, segundo um critério geralmente temático às vezes regional. Lindam com a literatura, a história das ideias, a retórica, o humanismo, a crítica literária, a hermenêutica e a filosofia. A culpa, para bem ou para mal, estará em eu haver-me lançado a mais do que um curso. Mas num tempo em que a interdisciplinaridade se vai impondo, não será por essa causa que virá mal ao mundo da cultura. De acordo com a epígrafe geral, Clio e Polímnia não entram, desta feita, como Pilatos no credo, simbolizando aquela, naturalmente, a recolha de índole histórica e literária, esta a retórica ou até politonal. Desculpar-se-á, estou certo, alguma eventual repetição de conceitos, inevitável em trabalhos deste género. Qualquer outra de proveito, repescada em textualização precedente, terá o aspado como aviso.

Tomadas de posição polémicas há-as, aqui e além. Entre elas, recordo as que revelam o estilo de Damião de Góis, nas Crónicas em português, e a covergência sócio-político-religiosa entre Vieira e Campanella; ou a discordante de pontos de vista ousados alegadamente descobertos em Fernão Mendes Pinto. Outras posições são nitidamente correctoras de ideias passivamente aceites mas inobjectivas, qual o caso de edições da Uliseia de Gabriel Pereira de Castro ou da Paciecidos de Bartolomeu Pereira.